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domingo, 4 de setembro de 2011

De onde vem o jeitinho brasileiro?


     O povo brasileiro, historicamente, confunde o conceito de direitos com a idéia de favores. Culturalmente, foi assimilando mais deveres a serem cumpridos do que direitos a serem usufruídos. Da mesma forma, erradamente, os brasileiros acreditam que o que é público não é de ninguém. É por isso que nossas atitudes cotidianas somente são compreensíveis pelos processos culturais que nos fizeram “ser o que somos”.

     No filme Os outros, o diretor Fernando Mozart apresenta o povo brasileiro como muito religioso e que tem adoração pelas formas arredondadas da bunda, do bumbo e da bola. Os brasileiros, segundo o filme, não perdem o controle da bola e o rebolar da bunda. O carnaval, por sua vez, é uma grande festa capaz de superar, instantaneamente, todas as desigualdades sociais, reunindo todas as seitas religiosas no embalo de um único ritmo. A idéia de que brasileiros sempre são os outros teria origem no início da colonização, a partir de uma idéia de que esta é uma terra sem males e de que aqui tudo se pode.
     Então, se o outro pode (roubar, enganar, mentir, ser corrupto) por que também eu não posso fazer? Desta forma, foram aumentando e se multiplicando os outros, de forma que hoje ninguém assume mais quaisquer responsabilidades sobre nada. Outros agora são ninguém. Se não bastasse, atribuímos a iluminados ou iluminadas salvar o país. O povo se comporta como expectador e não como protagonista de sua história.

Identidade brasileira?

     Quando o Brasil foi avistado pelos colonizadores, os índios e, mais tarde, os negros, tiveram sua cultura ignorada e suprimida. Suas culturas não eram dignas de uma identidade brasileira e, por isto mesmo, sempre foram marginalizadas. Os colonizadores aqui implantaram ou adaptaram o modo de pensar europeu de ser. Por muito tempo, em nossa história, ser culto (possuir ou dominar cultura) significava ter estudado em universidades européias ou ter viajado pela Europa. Aos brasileiros, sua própria cultura (modos de ser, pensar e agir) ainda não é suficientemente séria para ser reconhecida e estudada. O Brasil ainda hoje carece de uma identidade.
     Quem é que não conhece o jeitinho brasileiro? Ele é a expressão notória de que os direitos, sempre conquistados com luta e organização, são renegados, muitas vezes, entrando em ação os jeitinhos. Sim, porque estes resolvem, na camaradagem, as situações particulares de cada um. Por sua vez, os direitos apontam benefícios coletivos e critérios justos, ao passo que os jeitinhos resolvem os problemas individuais, com vantagens para quem é beneficiado e quem media o mesmo. Some-se ao jeitinho brasileiro a Lei de Gérson (sempre levar vantagem em tudo) e explicamos a cultura de corrupção nos sucessivos escândalos a que vimos assistindo até hoje.

O Brasil tem jeito

     Muitos brasileiros não se imaginam protestando ou exigindo direitos. Pois é por conta disso que somos a nação das filas e das esperas demoradas, abrindo oportunidades para os espertos se darem bem. Os que lutam por direitos são tratados como baderneiros, rebeldes, vagabundos, gente que não tem o que fazer. Criou-se, assim, a idéia de que é crime reivindicar e exigir direitos.
     O que é público, por sua vez, é tido como aquilo que não é de ninguém. Se não é de ninguém, por que cuidar? Público é tudo aquilo que é um patrimônio de todos. E porque não pensamos assim, vamos destruindo o que é de todos, porque entendemos que não é de ninguém.
     O Brasil tem jeito? Sim, o Brasil terá jeito quando brasileiros e brasileiras assumirem uma cidadania ativa, exigindo de si mesmos e dos demais novas posturas e condutas. Acreditamos que é possível? Pois é, se nem eu e nem você fizermos nossa parte, seremos mais dois no time dos outros.


Nei Alberto Pies,
professor e militante de Direitos Humanos, Passo Fundo, RS.

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